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Memória de um Banho Santo
1983
Data: / Duração: 00:28:58
Esta romaria tem lugar no dia 24 de Agosto, na aldeia de S. Bartolomeu do mar e atrai milhares de romeiros.
No quadro das romarias portuguesas ela apresenta-se como um dos exemplos mais significativos da perdurabilidade de componentes mágicas muito expressivas em cerimónias religiosas.
O santo é tido como um grande defensor contra a epilepsia, que no conceito popular se identifica com a possessão pelo Diabo, e ainda contra a gaguez e o medo, que são formas atenuadas daquela possessão. Segundo a lenda, S. Bartolomeu domina e vence o Demónio. No seu dia, por isso, acredita-se na eficácia da sua intervenção na cura daqueles males, mediante práticas específicas, designadamente oferenda de frangos, preferentemente pretos, e banhos rituais de mar, respeitantes fundamentalmente às crianças.
O ritual inicia-se cumprindo as voltas cerimoniais em torno da igreja, levando as crianças os frangos ao colo ou pendurados nas mãos pelas pernas. Seguidamente entram na igreja e dirigem-se a uma mesa assistida pelos festeiros onde estão duas imagens do Santo que são dadas a beijar às crianças. Entregam os frangos a uma mulher que os leva para um galinheiro instalado ali ao lado. As crianças desfilam em torno do andor de S. Bartolomeu, em forma de barco, de modo a passarem três vezes sob a proa.
A meio da manhã tem lugar a missa solene, ouvindo-se por entre os cânticos litúrgicos o cacarejo dos frangos que incessantemente entram na igreja ao colo das crianças.
Cumpridas as promessas na igreja os devotos seguem até à beira-mar por um caminho onde, até aos anos cinquenta se exibiam centenas de aleijados, sobretudo epilépticos, falsos ou verdadeiros. Um severo policiamento retirou de cena quase que por completo esses actores grotescos.
No extenso areal da praia a multidão adensa-se. As famílias despem completamente as crianças e entregam-nas aos sargaceiros ou sargaceiras que se tornam banheiros nesse dia. Tomam as crianças nos braços e entram com elas no mar mergulhando-as ritualmente em três ondas.
Entretanto a animação aumenta. Canta-se e dança-se e atacam-se os merendeiros. Pelas 15 horas sai a procissão da igreja e vai pelo caminho da praia parando junto ao mar. O pregador sobe a um púlpito improvisado e profere o sermão, aludindo às virtudes do mar. A procissão regressa à igreja por entre intenso estrelejar de foguetes.
Benjamim Enes Pereira
- Ficha técnica
Realização e Imagem: Carlos Eduardo Viana
Registo de Som: Rui Alberto Viana
Iluminação: Augusto Moreira e Eduardo Brito
Montagem: Vítor Silva, Carlos Eduardo Viana e Fátima Laranjeira
Produção: Oficina de Cinema e Audiovisuais do Centro Cultural do Alto Minho, com o apoio da Federação Portuguesa de Cinema e Audiovisuais e da Secretaria de Estado da Cultura
Século XX em 8mm
Antes do aparecimento do vídeo foi filmado em película de 8mm, principalmente por particulares, todo o tipo de registos, desde filmes familiares a obras premiadas em festivais. Nestes filmes encontramos, muitas vezes, testemunhos do que foi o desenvolvimento social, político e económico do país. Este chamado “formato reduzido”, encerra uma parte significativa da memória do séc. XX. O Século XX em 8 mm quer ser um contributo do Lugar do Real para a divulgação de um património muitas vezes esquecido no fundo das gavetas e à mercê de uma deterioração irreversível e que deve ser recuperado e partilhado.
Carlos Eduardo Viana
Carlos Eduardo Viana (n. 1953, em Antas) fez estudos superiores em Cinema e Vídeo na ESAP, Escola Superior Artística do Porto e possui uma licenciatura em ensino (Língua Portuguesa e História e Geografia de Portugal).
Em 1975 foi sócio fundador da ARCA-Associação Recreativa e Cultural de Antas e, em 1989, da Rio Neiva-Associação de Defesa do Ambiente, associações de que foi dirigente.
Bolseiro do governo francês frequentou nos Ateliers VARAN, em Paris, dois estágios de cinema direto (iniciação, em 1982, e aperfeiçoamento, em 1986).
Fundou e coordenou a Oficina de Cinema e Audiovisuais do Centro Cultural do Alto Minho (1981 a 1994) e foi sócio fundador, em 1994, da AO NORTE – Associação de Produção e Animação Audiovisual, ONGD de que é dirigente.
Exerceu o cargo de Orientador Educativo na Escola Profissional do Minho, Esprominho, e funções docentes (1995/2003) onde lecionou a disciplina de Integração e de Técnicas Audiovisuais.
Exerceu funções docentes (grupo 200) no Agrupamento de Escolas António Rodrigues Sampaio até 2020, ano em que se aposentou.
É Presidente da Assembleia Geral da Fora de Campo Filmes.
Coordena, desde 2001, os Encontros de Cinema de Viana, desde 2002 as atividades pedagógicas desenvolvidas pela AO NORTE na área da literacia fílmica, desde 2009 o portal na
Internet Lugar do Real e, desde 2014, o MDOC-Festival Internacional de Documentário de Melgaço.
Filmografia
MOUNA, UN D. QUIXOTE (França, S8, 26’, 1982);
MEMÓRIA DE UM BANHO SANTO (S8, 30’1983);
LA PLEINE LUNE (França, 16 mm, 25’1986);
CONTRA A CORRENTE (DVCAM, 33’, 2003);
O FOLE, um objecto do quotidiano rural (DVCAM, 33’, 2006);
MILHO À TERRA! (DVCAM, 55’, 2007);
CAMINHU KU FUTURU (Portugal/Cabo Verde, DVCAM, 90’, 2007);
O VOO DO HUMBI-HUMBI (Portugal/Angola, DVCAM, 60’, 2007);
ÁGUA-ARRIBA, histórias de barcos e homens (DVCAM, 75’ 2010);
BORDADO DE VIANA (HD, 58’, 2012);
ÁGUAS EM CONTA (HD, 52’, 2012);
S. JOÃO D'ARGA (HD, 44’, 2012);
ARGAÇO (HD, 74’, 2012);
DESAFIOS (HD, 83’, 2013);
OURO DE LEI, histórias do ouro popular português (HD, 110’, 2013);
DO MEGALITISMO E ARTE RUPESTRE (HD; 51’; 2020);
DOS CASTROS (HD; 30’; 2020);
DA ROMANIZAÇÃO (HD; 30’; 2020
DO ROMÂNICO (HD; 30’; 2020);
DO BARROCO (HD; 39’; 2020);
DOS MOSTEIROS (HD; 32’; 2020);
DAS FORTIFICAÇÕES (HD; 30’; 2020);
DAS ARQUITECTURAS TRADICIONAIS (HD; 33’; 2021);
DAS NAVEGAÇÕES (HD; 34’; 2021).